Forum Rio Cidade Criativa, 7 a 9 de Outubro 2010 - MAM (Museu de Arte Moderna e Parque Lage) promovido pelo Coletivo [rio] Cidade Criativa - Regina Miranda (www.cidadecriativa.org/)
[notas escritas por Cleydia Regina Esteves]
'Este coletivo se reúne há um ano e foi iniciativa da Socio-coreóloga (Estudo dos gestos corporais como movimentos ritualísticos) Regina Miranda, que já teve outras iniciativas semelhantes na área da cultura na cidade do Rio de Janeiro. Ela é consultora internacional para a área da cultura e artes e atua especialmente nos EUA e no Brasil.
Esta iniciativa visa, entre outros objetivos, estimular, refletir, organizar e mobilizar as pessoas, instituições, empresas e governos para a importância das artes e da classe artística para a promoção e desenvolvimento da cultura como fator de crescimento social e econômico da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno.
Como Regina fala a partir das Artes e crê na potencialidade da classe artística como dinamizador da capacidade criativa existente na cidade, ela reconhece neste grupo um protagonismo que é preciso estimular, organizar e apoiar para que ele possa expressar adequadamente esta riqueza cultural e, ao mesmo tempo, contaminar a vida urbana do Rio de Janeiro de forma propositiva e co-participe na resolução dos problemas que a cidade apresenta.
Para tanto ela fez um projeto de 10 anos de implementação e foi buscar parceiros nas instituições civis, públicas e privadas. Com esses primeiros passos dados, foi organizado o Forum então para que o movimento ganhasse visibilidade, adesão e proporcionasse o debate entre os diferentes atores que atuam na sociedade carioca.
Neste fórum foram apresentadas diversas mesas (na verdade foi usado um sofá, para quebrar um pouco a dinâmica das apresentações formais e aproximar os palestrantes dos assistentes). Nelas falaram autoridades públicas, professores universitários, artistas, pesquisadores, representantes de ONGs, empresários e convidados internacionais: Luis Cancel, secretário de cultura da cidade de São Francisco (
http://www.sfartscommission.org/) e Damien Pwono, Diretor Iniciativa Global sobre Cultura e Sociedade, Aspen Institute (
http://www.aspeninstitute.org/people/damien-pwono), ambos dos Estados Unidos da América.
Os temas tratados foram vários: a própria cidade do Rio de Janeiro e se de fato era uma cidade criativa, o seu patrimônio arquitetônico, artístico e cultural; a própria sociedade carioca e o carioca como potencialidades criativas e criadoras; a gestão pública e privada dos espaços culturais e públicos da cidade; as carências de infraestrutura, de equipamentos sociais e a desigualdade social como fatores limitantes e ao mesmo tempos, desafiadores às elites políticas, econômicas, sociais e culturais da cidade, entre outros, analisados à luz de experiências internacionais exitosas ou não.
A cidade do Rio de Janeiro terá até 2016, um evento de escala mundial por ano (2011-jogos militares mundiais; 2012- Rio+20; 2013 -ICOM; 2014 - Copa do Mundo; 2015 - 450 anos da cidade e 2016 - Olimpíadas), o que torna sua agenda extremamente complexa e vai exigir das suas lideranças uma enorme capacidade de resposta para os problemas que a cidade apresenta. Sobretudo no sentido de que toda a atratividade e investimentos que ela conseguir, fiquem como resultados positivos para sua população e não só.
Ficou patente a necessidade de se pensar a cidade em diferentes escalas (local, regional, nacional e mundial), de não se ignorar as mazelas sociais que apresenta e a oportunidade que haverá para minimizar grande parte delas, a importância da participação democrática de todos, a geração de consensos para ultrapassar impasses e diferenças, de se pensar a longo prazo e portanto a noção de planejamento é essencial para organizar, implementar e monitorar ações e projetos, o incentivo à participação cidadã através do empreendedorismo, voluntariado, ações conjuntas entre os diferentes atores sociais (na formação, acrescento eu, daquilo que em nossas pesquisas, no IPPUR/UFRJ, estamos trabalhando, isto é, de redes cívicas) e outras possibilidades de democracia participativa que fortaleça a sociedade na prática de ações informadas.
Experiências Internacionais
Durante o evento e através de alguns palestrantes, foram apresentadas e discutidas algumas experiências internacionais que obtiveram êxitos em seus objetivos.
Entre estas foram apresentadas mais detidamente, as que a cidade de São Francisco encontrou, ao longo de sua história, para superar momentos de crise ou desastres naturais, como foi o caso do terremoto de 1906. Mais recentemente foram colocados em ação, alguns projetos que visavam minimizar os efeitos da crise do subprime naquela cidade.
Através de sua "Arts Comission" (uma instituição que foi criada na virada do século XIX para o XX com a contribuição de grandes capitalistas que viviam na cidade) foi elaborada a campanha "instalações e apresentações culturais em espaços públicos". Vários projetos foram postos em prática, como por exemplo: Storefronts Program (
http://www.sfartscommission.org/media/news-events/2010/05/14/art-in-storefronts-pilot-program-launches-in-chinatowns-wentworth-alley/), Fight for the neighbordhood (
http://www.nytimes.com/2009/12/20/arts/20sfculture.html), entre outros que buscavam mobilizar os artistas, os comerciantes, moradores e demais integrantes da sociedade local.
Quando ele explicou estes programas, logo surgiu-me no pensamento os quarteirões, lojas e vitrines (montras) vazios do centro histórico do Porto. Qual é a história então? Cancel explicou que com a crise, muitas lojas fecharam na cidade de São Francisco, com isso muitas ruas começaram a ficar vazias e os poucos lojistas que resistiram não conseguiam atrair a população. Então foi pensado o projeto que consistia em reunir proprietários das lojas vazias, comerciantes e artistas, para que estes ocupassem aquelas vitrines vazias com obras de arte. Não só isto atraiu novamente população para estas áreas, como também minimizou o impacto visual de prédios não ocupados (com possível risco de degradação) e proporcionou aos artistas, expor sua arte de forma inusitada, criando um novo espaço de visualização.
O outro projeto buscava fazer das pinturas nos muros e paredes da cidade, uma arte engajada e com qualidade do grafiti.
Este programa buscou atrair os jovens por meio da pintura urbana e para tanto, envolveu também as escolas e o intercambio de informações entre os agentes interessados na solução deste problema.
Em relação à cidade do Porto, a primeira experiência pareceu-me bastante interessante, porque já na Miguel Bombarda, há uma espécie de revitalização urbana e artística com a junção daquelas várias galerias de arte. E há uma rua paralela à Avenida dos Aliados que apresenta a concentrações de lojas conceituais, por exemplo de discos de vinil, barzinhos temáticos, etc. que poderiam ser aproveitados para mobilizar aderentes.
Creio que o centro histórico do Porto se presta perfeitamente a esta experiência, pois há lojas ainda do século XIX, com fachadas belíssimas, de madeira nobre, com arabescos e decorações do gênero. É fácil e rápido de percorrer e já tem um charme próprio (desculpe, aqui já é a amante do Porto falando com o coração cheio de saudade), incentivando a "flanerie" nas suas ruas.
Penso que este resumo dá uma idéia geral do que foi o Forum e obviamente, através das minhas impressões, como geógrafa e historiadora'.
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Muito obrigado, Cleydia, por este muito interessante e inspirador relato.
JCM