Vivemos, provavelmente, um dos períodos mais complexos e difíceis da nossa existência recente, com sinais diários de uma profunda crise financeira, económica e social cujas consequências, dizem, ainda estão longe de ser percebidas.
Como habitualmente, gastamos as nossas energias a tentar encontrar os culpados da crise, carpindo mágoas sobre as suas consequências, mas reflectindo pouco sobre as razões que a originaram ou esquecendo de procurar identificar formas criativas dela sair.
Sendo consensual que as medidas até agora implementadas (cortes na despesa e aumento de impostos) têm um alcance limitado e não são suficientes para resolver o problema de fundo, urge procurar encontrar respostas para duas questões centrais. Como estimular o desenvolvimento económico e social, isto é, como gerar novos empregos e criar riqueza, e, segundo, como fazê-lo de forma colaborativa, isto é como podemos mobilizar as diferentes forças e energias cívicas, intelectuais, produtivas e poderes públicos para, em conjunto, encontrarmos soluções com benefícios mútuos?
Não estando sozinhos neste dilema, talvez valha a pena olhar para a forma como outros países têm procurado responder às questões colocadas. Das várias medidas que têm vindo a ser tomadas salienta-se a crescente importância que é atribuída ao papel das cidades na promoção do desenvolvimento económico e social e na criação de emprego (Europa 2020 - Smart, Sustainable and Inclusive Economy & Territorial Cohesion; US Urban Policy –American Jobs Act & American Recovery and Reinvestment Act ).
Em Portugal esta aposta tem vindo a ser discutido de forma ténue. Ainda assim, têm vindo a surgir algumas iniciativas que visam chamar a atenção para a sua oportunidade. Do conjunto salienta-se as iniciativas promovidas no âmbito da plataforma ‘Cidades pela Retoma’ (https://www.facebook.com/CidadespelaRetoma) que, de alguma forma, têm procurado reflectir sobre o papel das cidades e das suas comunidades na Retoma, apelando à necessidade de um novo quadro de transição do nosso modelo de organização e desenvolvimento económico, social e espacial.
Na sequência de alguma reflexão produzida, tem vindo a ser discutida a pertinência e oportunidade de se produzir uma ‘AGENDA LOCAL COLABORATIVA PARA A RETOMA ‘, um desafio que estimule o envolvimento das comunidades locais, agentes sociais e económicos, poderes municipais e instituições do sistema científico e tecnológico na procura de respostas criativas para o crescimento e desenvolvimento económico à escala local.
Para isso, foi sugerido o lançamento de um desafio colaborativo que vise sugerir ou identificar iniciativas, projectos ou acções de ‘baixo-custo e alto-impacto’ que respondam à resolução de problemas concretos ou à valorização de potencialidades das cidades num conjunto de domínios relevantes, por exemplo na economia da cultura, na regeneração e construção sustentável, na economia social e solidária, no envelhecimento activo, na mobilidade sustentável, na alimentação local e na relação cidade/campo.
As acções a sugerir devem responder ao interesse colectivo, ser de baixo custo, de localização cirúrgica e de execução rápida e visível. Para além disso, devem valorizar a ligação entre conhecimento científico e empírico e gerar impacto positivo nas comunidades locais (emprego, criação de valor, melhoria qualidade de vida).
Este ambicioso exercício exigirá uma forte mobilização à escala local, envolvendo cidadãos, organizações e autarquias locais, com vista à construção, validação, disseminação e apoio à implementação das ideias/projectos e deverá procurar identificar sistemas inovadores de financiamento local (‘Crowdfunding’) em cada cidade, tal como foi sugerido recentemente por Obama no seu American Jobs Act.
Está na altura das comunidades locais e seus responsáveis autárquicos se mobilizarem para passar a ter um papel mais activo na procura de soluções para retoma. Deixo-vos pois o desafio para comparecerem na conferência que a associação Faro1540 vai organizar no dia 7 de Outubro(http://www.faro1540.org/?p=1075) para que contribuam com os vossos comentários e sugestões para o desenvolvimento deste estimulante desafio colectivo.
José Carlos Mota, Investigador e docente do DCSPT - Universidade de Aveiro (jcmota@ua.pt)
[página de facebook] http://www.facebook.com/CidadespelaRetoma
[mailing-list] https://groups.google.com/group/cidadespelaretoma
Um segundo, que agrega as cinco iniciativas do 'Cidades pela Retoma':
[Newsletter 'Cidades pela Retoma'] espaço de divulgação das iniciativas cívicas pela retoma (ainda em estudo)
[Mapa ‘Cidade Global 2.0’] mapa georreferenciado de ‘blogues de ruas, bairros, vilas ou cidades’
(http://globalcity.blogs.sapo.pt/ e http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/30748.html )
[‘Rua das Ideias’] desafio informal para identificar iniciativas ou projectos 'de baixo custo e alto valor acrescentado' que visem contribuir para a animação social ou económica das cidades
(http://ruadasideias.blogs.sapo.pt/ e http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/28650.html)
[‘Think Tank Cívico’ sobre Cidades] repositório de conhecimento (documentos, estudos e investigações) sobre o tema das cidades e suas múltiplas linhas de observação/acção
http://citiescivicthinktank.blogs.sapo.pt/ (ainda em estudo)
[Agenda Local pela Retoma | Workshops Cidades pela Retoma] sessões de debate sobre 'como podem as cidades (e as suas comunidades) organizar-se para responder a este momento de crise económica?'
iniciativas em desenvolvimento: Porto (http://www.acdporto.org/cidades-pela-retoma/); Faro (http://www.faro1540.org/)