15
Mar 12

Resiliência & Transição

No âmbito de uma actividade académico-científica do Mestrado em Planeamento Regional e Urbano do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro foi criado um espaço digital no FB de partilha de reflexão sobre ‘Resiliência & Transição’  (https://www.facebook.com/AveiroEmTransicao).

Convidamo-los a visitar o espaço digital e a partilhar as vossas iniciativas relevantes neste âmbito.

JCM

publicado por JCM às 09:53 | comentar | favorito
15
Dez 11

Novas plataformas

No quadro das iniciativas que o movimento 'Cidades pela Retoma' tem vindo a desenvolver foi lançado recentemente um grupo na plataforma Facebook  designado ‘Cidades pela Retoma e Transição’ (https://www.facebook.com/groups/cidadespelaretoma/) que se destina à divulgação e discussão de questões relevantes (notícias, estudos, projectos,…) relacionadas com a temática do papel e potencial das cidades no quadro actual de transição social e económica.

Entretanto o blogue http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/ tem um conjunto de novos contributos de reflexão que justificam uma visita e comentário.

Por último se desejarem inscrever-se na mailing-list de discussão podem fazê-lo no seguinte link https://groups.google.com/group/cidadespelaretoma   

publicado por JCM às 13:37 | comentar | favorito
22
Jul 11

‎'CIDADES PELA RETOMA, REFORMA E TRANSIÇÃO‘ O PAPEL DOS ‘MOVIMENTOS CÍVICOS’ QUE REFLECTEM SOBRE AS CIDADES, NUM CONTEXTO DE TRANSIÇÃO

publicado por JCM às 09:30 | comentar | favorito
20
Dez 10

A propósito da 'Retoma vs. transição'

[debate no 'Cidades pela Retoma']

 

[Nuno] post 3

Caro Mário, agradeço a resposta e os links interessantes,

Como diz, um cenário recessivo afasta a hipótese da mossa nos preços que faz o aumento de procura, tal como, inversamente, os preços altos inviabilizam um crescimento económico contínuo (pelo menos de todos e como "no antigamente").
No meio de tudo isto, concordo também, as pessoas vão descobrindo alternativas e oportunidades, tal como em qualquer outro ponto do movimento perpétuo da história.
Dito isto, não ponho em questão as grandes probabilidades que tudo se desenrole de forma positiva (a auto-preservação é um instinto muito forte), relativizando o peso dos transportes devido a comportamentos "auto-regulatórios" gerados por preços altos mas é tudo uma questão de tempo.

A questão é que o transporte (barato, necessariamente) não é apenas gordura e desperdício: o transporte de carga não-rodoviário interno na UE é menos de 15%; o comércio global é feito em 90% por navio (uma das imagens do Verão de 2008 foram as centenas de navios ancorados no Mar da China, cheios de carros e roupa) e os passageiros por via aérea são 16 biliões- tudo isto é o suporte da coesão económica de países que compram e que exportam, de interacção de pessoas e de alianças políticas. A Revolução Industrial disparou com o transporte permitido pelo vapor e continua até hoje (e mais do que nunca), dependente de energia acessível e barata. Uma redução do transporte global não implica eficiência mas estagnação ou regressão- após décadas a construir uma dependência total do comércio externo, abandonando as capacidades próprias, todos os países se expuseram a uma fragilidade sem paralelo. Como desfizemos, podemos refazer agora, mas precisamos de tempo.

Mas a infra-estrutura monumental que é o transporte global é impossível de mudar significativamente em 30 anos, quanto mais em 5. Em Portugal, os nossos 3 maiores exportadores - Galp, Tap e Autoeuropa - por exemplo, dependem directamente de crude barato, o transporte rodoviário está nos 98% (!) por isso torna-se óbvio que é difícil ter a estabilidade económica relativa necessária a tais transições, assumindo que não há uma enorme resistência, por parte de políticos e cidadãos, a tudo o que implique algum tipo de mudança de hábitos para longe do paradigma de consumo actual. Os transportes colectivos são cruciais mas em apenas 15 dias (!) anunciou-se a extinção de linhas de comboio; que rodoviárias vão fechar por dívidas do Estado; que preços dos transportes vão subir; que se venderam mais automóveis do que nunca; que a CP Carga está em falência técnica e, finalmente, que o preço do petróleo subiu de 70 para bem acima dos 90$ em menos de 3 meses (por causa disto commodities como o açúcar duplicaram de preço mas a população e jornalistas lá pensaram que a culpa é dos hipers).

Está difícil, como bem apontou o Mário, ter um sentimento mais construtivo do que a preocupação.
Basicamente, posso soar algo pessimista mas não é porque enfrentamos um desafio técnico gigantesco mas porque ninguém reconhece que exista sequer um problema estrutural na nossa economia e sociedade.

Nesta fase, se ventilar publicamente qualquer tipo de alerta deste género, corro o risco de passar por um daqueles profetas que se encontram nos semáforos.

N.

 

[Mário Alves] post 2

Obrigado pelo comentário. De facto somos sempre tentados, e chamados, a prever o futuro. O que sugiro no artigo é que em vez de o tentarmos prever, devíamos tentar construi-lo. Como? Construindo narrativas coerentes sobre o futuro, ponderando as responsabilidades e consequências (entende-se a atenção que o Kunstler dá à ficção). Só assim podemos também pensar melhor em formas de alterar os nossos destinos. Com visões partilhadas de futuro, podemos evitar, pelo menos parte, as consequências de continuarmos a comportar da mesma forma. Como diria o La Palisse , e como descobriu o Kunstler com o bug do milénio, o futuro depende em muito de nós. Claro que em situações muito complexas e com grande velocidade, alterar padrões e trajectórias será sempre muito mais difícil e até doloroso. Mas é bem mais útil e interessante procurar futuros desejados, que tratar o futuro como uma fatalidade a que nos temos que adaptar. 
Vídeo de uma apresentação da Dana Meadows onde fala sobre a importância de ter uma visão sobre o futuro (vale a pena ver até ao fim, porque termina de uma forma corajosa e surpreendente):
http://www.uvm.edu/giee/beyondenvironmentalism/Meadows.mov
O último relatório da EIA é muito interessante também por causa desta complexidade de saber do que estamos a falar quando falamos do futuro. O caso do petróleo é um bom exemplo de como o seu futuro como recurso depende muito da forma como alteramos comportamentos e políticas. O que à primeira vista pode ser interpretado como "finalmente o anuncio do pico pela EIA":
http://motherjones.com/kevin-drum/2010/11/chart-day-peak-oil


É justificado de outra forma: adoptando New Policies scenario " (ler com atenção o gráfico) a pressão da procura do petróleo baixará de forma a não ser necessário aumentar a oferta. Não que eu pessoalmente acredite muito na possibilidade da adopção do New Policies scenario ", mas é claramente uma tentativa da EIA alterar e controlar o futuro. E como sabemos há duas maneiras de lidar com limites, ou pela gestão ou pela catástrofe.
O meu cepticismo na adopção do New Policies scenario " tem muito a ver com outro aspecto interessante do último relatório da EIA: estimaram que em 2009 os combustíveis fosseis receberam em todo o mundo 312 biliões de dólares em subsídios (os quais muitas ONGs consideram subestimados e, sabemos nós, não incluem as externalidades). Dizem os cínicos que política é a arte de passar os problemas para a geração seguinte.
Sobre as consequências do impacto do preço do petróleo, devo acrescentar que poderá ser mais indirecto sobre a mobilidade das pessoas (através do impacto directo na economia, pessoas sem dinheiro de pijama em casa viajam pouco) e mais directo sobre transporte de mercadorias. A mobilidade individual das pessoas tem neste momento muita "gordura" ineficiente de reserva (tonelada e meia para transportar uma pessoa virgula três!) o que ajudará a encontrar, não sem dor, formas mais eficientes de locomoção. Cobrar ou não as externalidades ao Transporte Individual poderá passar a ser uma questão política irrelevante, perante a revolta paralisante dos camionistas, da inflação e desemprego, do aumento da divida externa para o pagamento da factura energética, etc. 
Para não pensar que estou a fugir à pergunta: sim, a situação é preocupante. Preocupação é um sentimento pouco útil. Mais vale procurar na arte e filosofia formas de compreender melhor o que se está a passar e imaginar outros futuros.

Mário

 

[Nuno] post 1

Ecoo também a questão de pertinência de "voltar atrás" a um paradigma de crescimento baseado no consumo, que enfrenta agora o seu maior desafio político após o colapso do comunismo.
Perguntava apenas ao Mário Alves, porque acha que a inclinação "Cassandrista" do Kunstler, agora assente no binómio economia financeira/disponibilidade de energia barata, está igualmente errada, após o previsível flop do bug do milénio? 
Também não vou muito à bola com o estilo de escrita do homem, a não ser por motivos lúdicos (felizmente passou a dedicar-se à ficção), mas quando a própria IEA corrobora as suas previsões a curto prazo...

http://economia.publico.pt/Noticia/petroleo-preparase-para-voltar-aos-100-dolares-o-barril_1471018

publicado por JCM às 22:20 | comentar | favorito
13
Dez 10

Retoma ou transição?

Num artigo do sempre divertido e amargo James Howard Kunstler, que o José Mota (JM) descreve de forma certeira como uma mistura de Medina Carreira e João Jardim com sotaque americano, a ideia de "retoma" é trucidada e lançada à parede com a perícia de quem sabe escrever e se especializou na descrição da doce catástrofe:
The hardships of today do not represent a dip in some regular cycle of financial push-me-pull-you. This is a systemic, structural change in the socio-economic ecology of human life.
...
This idea of "recovery" promulgated by authority figures who ought to know better is the cruelest swindle of them all, and perhaps the ...final one. If you want something like gainful employment in the years ahead, don't rely on the corporations, the government, or anyone with a work station equipped cubicle.
(Hat tip ao Alberto Castro Nunes)
Devo dizer que o JHK sempre me divertiu, mas raramente me convenceu sobre o futuro. Há uns tempos almocei com ele em Lisboa e ao lembrar-lhe que também se tinha enganado nas suas previsões (circa 1999) da inevitável catástrofe que causaria o bug do milénio, ele perdeu o humor e ficou uns largos minutos a justificar-se visivelmente irritado. Para além deste pequeno incidente, é como todos os pessimistas: uma personagem simpática e muito divertida. Leio-o irregularmente como encenador competente e mordaz do futuro - que involuntariamente dizem mais sobre dele e Saratoga Springs do que sobre o mundo. Nunca deixo de admirar a confiança que ele tem nas suas palavras e previsões. Tal como o Zandinga (e não estou a comparar a qualidade) ele também expõe o peito com coragem ao futuro. Pessoalmente habituei-me a considerar as suas previsões como visões - talvez elas sejam mais úteis se não as levarmos totalmente a sério, mas narrativas que nos ajudam a pensar o presente. Sendo assim, a justificação dele de ter falhado a previsão da desgraça na passagem do milénio pode fazer sentido - não aconteceu precisamente porque fizemos o esforço de imaginar e corrigir o futuro. Sobre as previsões de futuro prefiro ficar-me sempre pela máxima futebolistica: "prognósticos, só no fim do jogo".

Isto a propósito da minha dificuldade com a palavra "retoma". Não tendo respostas, fico um pouco perturbado com a nossa vontade de voltar atrás. Será possível, ou mesmo desejável? Que alternativas existem? Será falta de imaginação? Todos os esforços são por isso válidos. Inventar um novo sistema e paradigma não é nada fácil e exigirá cortes radicais com o passado, revoluções como nos explicou o Kuhn noutros contextos.

Neste conjunto de esforços de sairmos do buraco, diz-me o JM, começou ontem uma conferência em Chicago: "Global Metro Summit: delivering the next economy". Sobre cidades e as possibilidades de "retoma". Na breve introdução à conferência, logo a seguir ao enquadramento inevitável da crise, surge o seguinte parágrafo:
"What would this reset look like? Top economists, such as National Economic Council Chairman Larry Summers, think the shape of the next American economy must be more export-oriented, low carbon, innovation-fueled and opportunity rich."

Alto lá! Por coincidência acabei de sair do filme "Inside Job" (que recomendo, em exibição em Lisboa, Porto e Faro - A Verdade da Crise), onde o Larry Summers é convincentemente caracterizado como um dos protagonistas, se não mesmo o protagonista, do buraco em que nos encontramos. Talvez esta reciclagem de gurus e paradigmas seja o que mais me perturba nesta ideia de "retoma".

Poderei estar a ser injusto com a conferência em Chicago - mas por aqueles lados ninguém cita Larry Summers sem saber o que está a fazer.

Mais refrescante, porque invoca um outro mundo, são os conselhos do Kunstler no fim do seu artigo:

Start reading up on gardening and harness repair. Learn how to fix a pair of shoes. Volunteer for EMT duty if you're already out of a paycheck, and learn how to comfort people in medical distress. Jobs of the future will be hands-on and direct. I have no idea what medium of exchange you'll get paid with, but a chicken is a good start. 

Retoma ou transição?
O importante é começarmos a conversar mais e melhor. Por isso mesmo parabéns pela iniciativa - Cidades pela Retoma.
Mário Alves (email)

publicado por JCM às 13:50 | comentar | ver comentários (3) | favorito